15 abril 2019

Entrevista Com Miriã Diasis

em 15 abril 2019

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Oiii pessoal!!!

A entrevista da vez é com a autora de "365 Noites Em Paris", Miriã Diais. Vem conferir tudo que ela contou pra gente! Principalmente morrer de amores pela empolgação dela em comentar sobre seu livro.
"365 Noites em Paris é sobre ser feliz quando se tem pouco tempo de vida. Clichê. Mas a vida é naturalmente clichê."
Fonte da imagem: Ingrid Santana
1 - Recordando um pouco do passado, quando foi que você olhou para um texto que havia escrito e pensou "É isso que quero fazer, quero ser escritor"?
R.: Na verdade, não foi um texto exatamente. Eu estava com uma amiga sentada numa praça atrás do colégio. A aula tinha acabado mais cedo, o clima estava friozinho e devido o horário, estava meio deserto. Aí comecei a imaginar a cidade num apocalipse. No começo eu não fazia ideia de que tipo de apocalipse era, porque eu só queria escrever. Depois inventei uma tal "bruma" (outro nome pra nevoeiro) que passava pelos bairros e fazia todo mundo desaparecer (?). Coisa de escritor MUITO iniciante inventar um "trem" nada a ver desses. Foi assim que descobri que queria inventar ou reinventar histórias. Gostava da ideia de poder criar ou modificar algo. 

2 - Visto que optou pela publicação independente, como foi tomar essa decisão? O que te motivou a seguir esse caminho?
R.: Não foi uma das opções, foi a única, tendo em vista que eu não tinha e ainda não tenho condições de publicar por uma editora. O que me motivou foram algumas pessoas que se mostraram interessadas em ler no começo. Eu não queria ficar parada, então decidi que tinha de começar pelo mais fácil ou possível na época. 

3 - Como é ser um autor independente? Quais as maiores dificuldades que encontrou?
R.: Acho que ser autor independente é ter de lidar com o preconceito. Eu vejo muita gente que desanima de ler um livro quando dizemos que não somos publicados por uma editora - seja ela grande ou não - ou quando só temos a versão em e-book. Acho que respondi suas duas perguntas aí. Até hoje acredito que essa seja a única dificuldade pra mim. Mas com certeza ainda tem muitas outras que eu ainda não enxerguei. 

4 - Como é seu processo de escrita? Costuma anotar todo o enredo e como quer que as coisas acontecem ou deixa fluir?
R.: Sim, eu anoto tudo porque se não esqueço e a coisa desanda. Gosto e preciso de um roteiro para que eu não fuja do tema, do tempo e etc. Se eu estou escrevendo um romance fofo e deixar fluir, é bem capaz desse livro virar um suspense ou terror. haha

5 - Quando tem algum bloqueio criativo, o que costuma fazer?
R.: Vivo a vida normalmente. Não gosto de forçar a mente a procurar por algo que me inspire, pois nem sempre vai funcionar. 

6 - Eu, particularmente, amo 365 Noites Em Paris. Não posso ver um romance mega fofo que eu quero rs. Mas dentre suas obras publicadas, qual é seu favorito? 
R.: Somos duas! Dos três livros que escrevi, 365 ainda é o meu favorito. Paris tem um negóco muito doido. Coisa de filme. É magia que pega até quem nunca foi na cidade mas que ousa escrever sobre. A magia é tanta que até hoje eu penso em escrever outros livros que se passam lá. É esquisito!

7 - Existem muitas cobranças por parte dos seus leitores?
R.: Na verdade, não. A única cobrança que tenho tido ultimamente é da versão física de 365. Mas até eu me cobro isso, então... hahaha

8 - Existe algum livro que você leu e pensou "caramba, eu gostaria de ter escrito isso"?
R.: Acho que "Como eu era antes de você" ou "O Diário de Suzana para Nicholas". E claro, 365! Eu tenho um amor por ele, credo. 

9 - Em qual gênero você tem muita vontade de se aventurar? Tem algum que não escreveria de jeito nenhum?
R.: Romance policial. Amo séries policiais! Já o que eu acho que não escreveria é terror e derivados. 

10 - Conta um pouco sobre seu livro pra gente.
R.: Certa vez me perguntaram como eu definiria 365 Noites em Paris, naquela visão que as revistas, jornais e colegas escritores têm sobre algumas obras. Eu fiquei pensando nisso por dias porque é difícil falar de um livro meu tanto quanto falar de mim mesma. E essa definição deveria servir como tentativa de divulgação.
É engraçado como a gente só consegue entender a lição que queremos passar num livro quando ainda estamos trabalhando nele a todo vapor. Depois que finalmente finalizamos, parece que nos esquecemos de quase tudo... 
Mas 365 Noites em Paris é especialmente difícil de comentar porque a principal lição do livro é algo que poderia entregar a história. O que eu poderia dizer é que não é um livro em que você deva criar expectativas por acontecer em Paris. No primeiro capítulo do livro eu já falo sobre isso: “As pessoas ao redor do mundo sempre pensam que Paris é o <>”, quando na realidade, Paris é uma cidade tão cheia de defeitos quanto outras grandes cidades.
A Torre Eiffel quase sempre passa aquela ideia de que é uma cidade perfeita para se viver. Isso é muito interessante porque a sua iluminação é tão esplêndida que nos faz pensar assim, querendo ou não, porque “o que os olhos não veem, o coração não sente”, é mais ou menos assim. Tem a Pont des Arts também, que é impossível não se lembrar do dia dos namorados e também que não se pode mais prender cadeados nela porque os cadeados começaram a pesar no parapeito e a prefeitura decidiu substituí-los por algo mais resistente. 
Paris também sempre nos lembra “moda”, que nos lembra Coco Chanel e sua trajetória em Paris. Coco tinha uma história interessante. Era uma mulher completamente desacreditada no amor, mas ao se mudar para Paris, parece que à medida que precisava conquistar algumas pessoas importantes para chegar ao topo em que esteve nos anos 30, ela ia mudando de ideia e acabava se interessando por homens que poderiam ajudá-la a realizar seu sonho de ser reconhecida. Mas só em 1909 ela se deu por vencida quando se apaixonou por um inglês chamado Arthur Capel, que estava de casamento marcado e mais tarde morreu num acidente de carro. Isso parece provar que Paris realmente nos faz acreditar que a Cidade Luz é um alucinógeno que nos deixa dependentes dos prazeres que ela nos oferece. Paris é naturalmente romântica. 
Mas existiam artistas famosos que não eram franceses, mas sentiam-se completamente atraídos por Ela. Picasso e Dalí eram espanhóis. Fitzgerald, Hemingway e Gertrude Stein eram escritores estadunidenses. Cole Porter era um cantor também estadunidense. James Joyce era um escritor irlandês e muitos outros artistas que compuseram a era do Iluminismo em Paris que não eram franceses. 
No entanto, minha parte preferida é a que eu decidi colocar no meu livro: juntar gastronomia e literatura – apesar de não entender nada sobre a digníssima gastronomia francesa. Com o passar do tempo eu passei a pensar assim: ambas as coisas são trabalhadas da mesma forma. Você as prepara com o mesmo carinho e atenção, dando o seu melhor para agradar o máximo de clientes/leitores que conseguir. Você precisa experimentar o sabor daquele prato que você está criando, do mesmo modo que você precisa entender a mensagem que quer passar para os demais. São artes que só podem realizadas com excelência por quem tem o dom de trabalhá-las com paciência, amor e dedicação. Sempre fazer do jeito que você gostaria que fosse feita para você, por outra pessoa. Aquela velha história de “faça pelos outros, o que gostaria que fizessem por você”. E também gosto de como essas duas coisas podem unir duas pessoas. Não é só sobre conhecer uma pessoa que faça a mesma coisa que você, mas encontrar alguém que entenda tudo o que você fala e todos os seus devaneios literários e gororobas experimentais. 
Apesar de ser só o meu segundo livro, Benjamin e Charlotte foram os personagens mais bem trabalhos que eu já criei. Não os coloquei numa situação impossível, mas também não os deixei numa situação perfeita. A intenção era justamente mostrar que Paris está cheia de pessoas que sabem ser feliz com o simples, mesmo em meio a uma cidade exigente e cara. Mostrar que tem pessoas que prefere uma Paris chuvosa, cinzenta e fria, só para ficar de frente para uma lareira, acompanhado de um Saint-Amour e um livro de Ernest Hemingway. Devemos ser como Ben e Char, duas pessoas que aproveitavam suas vidas ao máximo, que se permitiram a apaixonar um pelo outro sem saber se isso duraria muito ou pouco, se valeria a pena ou não. Não estou dizendo que devemos escolher qualquer um, mas para agarrarmos aquela pessoa que nos faça pensar que “se eu deixar essa pessoa escapar, eu nunca mais encontrarei alguém igual e jamais me apaixonarei dessa forma como estou agora”. 
365 Noites em Paris é sobre lutar por quem se ama, sobre aproveitar a vida sem pensar no futuro, sobre fazer loucuras sem se preocupar com a opinião alheia, sobre fazer o que mais ama, sem se preocupar com o dinheiro, sobre amar sem medidas... É unicamente sobre não levar a vida tão a sério. Unicamente sobre viver a vida como deve ser vivida, feliz com o pouco, dividindo o muito, dando a mão para quem um dia nos derrubou, perdoando quem jamais pensaríamos perdoar, amar verdadeiramente como jamais poderíamos imaginar, ser grato nas dificuldades, gentil com quem jamais seria conosco... Isso não é ser bonzinho demais, é alcançar a paz interior. A vida é curta demais para odiar alguém, enquanto somos hipócritas em desejar que o mundo seja melhor sem que façamos a nossa parte.

Entrevista realizada por Ingrid Santana

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